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Página:Triste fim de Polycarpo Quaresma.djvu/14

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Não recebia ninguém, vivia num isolamento monacal, embora fosse cortez com os vizinhos que o julgavam exquisito e misanthropo. Se não tinha amigos na redondeza, não tinha inimigos, e a unica desaffeição que merecera, fôra a do Dr. Segadas, um clinico afamado no lugar, que não podia admittir que Quaresma tivesse livros: « se não era formado, para que ? Pedantismo! »

O sub-secretario não mostrava os livros a ninguem, mas acontecia que, quando se abriam as janellas da sala de sua livraria, da rua poder-se-iam ver as estantes pejadas de cima a baixo.

Eram esses os seus hábitos; ultimamente, porém, mudara um pouco; e isso provocava commentarios no bairro. Além do compadre e da filha, as unicas pessoas que o visitavam até então, nos últimos dias, era visto entrar em sua casa, tres vezes por semana e em dias certos, um senhor baixo, magro, pallido, com um violão agasalhado numa bolsa de camurça. Logo pela primeira vez o caso intrigou a vizinhança. Um violão em casa tão respeitável! que seria?

E, na mesma tarde, uma das mais lindas vizinhas do major convidou uma amiga, e ambas levaram um tempo perdido, de cá p’ra lá, a palmilhar o passeio, esticando a cabeça, quando passavam diante da janella aberta do exquisito sub-secretario.

Não foi inutil a espionagem. Sentado no sofá, tendo ao lado o tal sujeito, empunhando o pinho na posição de tocar, o major, attentamente, ouvia: « Olhe, major, assim ». E as cordas vibravam vagarosamente a nota ferida; em seguida, o mestre adduzia: « é , aprendeu ».

Mais não foi precizo pôr na carta; a vizinhança concluiu logo que o major aprendia a tocar violão. Mas que cousa? Um homem tão sério mettido nessas malandragens! Uma tarde de sol — sol de Março, forte e implacavel — ahi pelas cercanias das quatro horas, as janellas de uma erma rua de S. Januario povoaram-se rapida e repentina-