Saltar para o conteúdo

Página:Turbilhão (Coelho Netto, 1919).djvu/177

Wikisource, a biblioteca livre

na Providência e a ovelha tornará ao redil, trazida pelo arrependimento."

Dona Júlia estremeceu na cadeira e chegou-se mais à Felícia, com os olhos imensamente abertos, a boca em hiato, trêmula e fria. Era justamente a história lamentável da sua vida que aquele homem denunciava; era a sua chaga que ele esvurmava, expondo-a aos olhos de todos e ela, humilhada, envergonhada e medrosa, repuxava o xale da negra, chamando-a em voz surda:

— Felícia... Felícia. - A negra inclinou a cabeça para ouvi-la: Ele sabe?

— Como não, minh'ama!?

— Foste tu que lhe disseste.

A negra mirou-a sem dizer palavra. Mas o homem continuava pregando a misericórdia, mostrando Jesus a perdoar as ofensas, até quando as lanças se lhe embebiam nas carnes. Dona Júlia não ouvia, preocupada com as palavras misteriosas que ele pronunciara, tão de feição à sua angústia e foi preciso que Felícia a chamasse para que ela saísse do êxtase doloroso e desse atenção ao pregador:

"Meus irmãos, concentremo-nos para que os nossos bons fluidos se convertam em medicina, preparando a água que deve curar os enfermos.

Uma velha ajoelhou-se e, d'olhos no teto, mãos postas, estatelou-se em ascese; e o homem pôs-se a dizer a prece lentamente, com o