que, afinal, voltava, que ela ia, enfim, rever e beijar.
Nunca um dia lhe pareceu tão longo como esse. As horas arrastavam-se; por mais que buscasse afazeres para distrair-se, volta e meia lá estava na sala a olhar o relógio. Arranjava a casa para receber a filha, trazia vasos de plantas para a sala, sacudia os tapetes, mudava a roupa das camas, num afã satisfeito.
Não podia contar com Felícia, que resmungava enfezada, repelindo visões, bradando furiosamente a seres imaginários, ora na cozinha, ora no quintal, ao sol. A pobre debatia-se lutando com as trevas que se lhe iam adensando no espírito. Por vezes, num momento lúcido, ficava imóvel, pensando; logo, porém, o delírio a retomava e, trabalhando maquinalmente, sempre a murmurar, a esconjurar, sacudia-se, esfregava os olhos irritada, aspergia os cantos, a mancheias d'água, sapateando frenética, grugrulhando em desespero crescente.
Atirava punhados de sal ao fogo e desvairada, excitada pela crepitação, bradava expulsando os espíritos, apanhava-os no ar, lançava-os pela porta, injuriando-os, soprando-os, como se fossem leves plumas e, d'olhos altos, acompanhava-os imaginariamente, esconjurando-os.
Dona Júlia começava a temê-la. Quando lhe ouvia os gritos, estrangulados como ganidos, afastava-se, ia para a sala da frente, receando alguma violência, mas a negra não se arredava