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Página:Turbilhão (Coelho Netto, 1919).djvu/295

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— Eu não devia recebê-la, - disse, ressentida. - Depois do que fez...

— Ora, mamãe.

— Eu é que sei o que tenho sofrido, as lágrimas amargas que tenho chorado. Outra não a recebia. - Levantou-se, ficou um momento parada, indecisa, o olhar perdido e lacrimoso, e repetiu por entre soluços: - Não devia recebê-la.

— Pois é contar com ela logo à noite; e fazer o que eu fiz, se não quer que ela nos deixe de visitar.

— Que é?

— Nada de recriminações. Agora é tarde, o mal está feito e não há remédio. Estive com ela. Conversamos, mas não lhe fiz a menor censura.

— Violante! - murmurou a velha, como se falasse ao coração. - Enfim...

— Eu volto à cidade, tenho ainda que fazer. Venho jantar. E tenha calma. Hoje a nossa casa deve enfeitar-se como a do velho da parábola no dia do regresso da filha pródiga. Até logo.

Abraçou-a e saiu. Ela ficou encostada à mesa, pensando, a chorar; lentamente, dirigiu-se para o quarto, acendeu a lamparina diante dos santos, ajoelhou-se e, de mãos postas, balbuciou as primeiras palavras de uma oração, mas numa explosão de lágrimas, abateu no soalho e ali ficou, soluçando, com palavras de recriminação e palavras de carinho para a filha ingrata