Antes fossem. Mas que foi que te deu na cabeça, minha filha?
Deu d'ombros, fez um momo e dando à voz um tom infantil:
— Vamos falar de outra coisa. Assim eu fico triste... - E logo, fugindo ao assunto: E Felícia? É verdade que está maluca?
— Perdida duma vez. Não diz coisa com coisa, sempre resmungando, praguejando. Daqui para a Hospício. Ainda hoje, não imaginas o que fez.
— Por quê?
— Por causa do filho. Os filhos... vocês! acentuou.
— Eu não sabia que ela tinha filho.
— Tinha, era marinheiro; morreu na revolta.
— Coitada!
— E tu? como vives?
— Vivendo: ora alegre, ora triste. Mas nada me falta, graças a Deus.
— E não ficas vexada?
Ela tornou-se séria, sacudindo as borlas da capa:
— Vexada, por quê? É uma vida como as outras. Vai, talvez, mais ligeira, mas é mais agradável. Tristezas, todos as têm. Eu podia ter casado, não quis.
— Por quê?
— Porque sim. - impôs a mão ao peito e afirmou: - Não tenho coração.
— Isso sei eu.