arranjava os travesseiros, estendia, alisava a colcha, aparentando cuidados que não encobriam a sua impaciência; animava-a, prometia ser muito assídua.
— Estarei aqui sempre, há de ver. Quando estiver triste venho para cá passar o dia ou a senhora vai lá para casa fazer-me companhia. Havemos de viver como dantes.
Sentou-se estabanadamente na cama, abraçou a velha que se conservava de olhos baixos, em atitude de humildade e de resignação.
De repente ergueu-se e, assustada, procurando o relógio entre as rendas soltas, exclamou:
— Dez e meia! Nossa Senhora!...
— Vai, minha filha. Deus te abençoe.
— A senhora não precisa de mim, felizmente. Até amanhã.
Beijou-a nas faces, beijou-lhe a mão. Saindo à sala, ouviu um estrupido surdo e uma voz soturna que resmoneava.
— Que é isso, Paulo?
— Que há de ser? É Felícia com as maluquices.
— Que agouro! Credo!
Ainda falou para o quarto: Até amanhã, mamãe.
— Vai com Deus.
— Adeus, Paulo. A que horas vou eu chegar a casa.
Seguiu ligeiramente pela corredor, com um rascante esfrolar de sedas, deixando um rasto de perfume. Paulo saiu à rua acompanhando-a ao coupé.
— Até amanhã.
— Até amanhã.