o detinham. De rastos, ele introduzia o seu vasto corpo pelas escadas estreitas, e ia dar de beber aos doentes, limpar-lhes as imundícies, oferecer-lhes o seu vasto peito para eles morrerem sobre o calor de um coração humano. Por vezes um moribundo queria a extrema-unção; mas os padres tinham fugido, os raros que ainda haviam não bastavam para tantos moribundos; e Cristóvão, tomando um crucifixo, de joelhos, bradava junto do leito fétido: “Jesus, meu Senhor, sê com este infeliz!”
Todas as noites havia grandes penitências. Bandos de homens, de mulheres seminuas, corriam as ruas, rasgando as carnes, cobrindo a face de lama, cantando cânticos ferozes em que as invocações ao Senhor se confundiam com apelos ao Demônio. Por vezes, de repente, uma voz gritava: “É culpa dos judeus!” E a multidão, tomando chuços, agarrando fachos, corria às casas dos judeus, que apareciam oferecendo sacos de ouro, e caíam sob os golpes, ou ficavam com as barbas queimadas.
Nas ruas ricas os palácios estavam fechados: e através das janelas sentiam-se músicas e o tinir das baixelas de prata, porque alguns pensavam que se devia esperar a morte no seio do prazer. Outros, porém, iam de casa em casa, em festas seguidas: - e viam-se cavaleiros, sem manto, com gotas de vinho nas barbas agudas, caminharem na rua, entre tocadores