Página:Ultimas Paginas (Eça de Queirós, 1912).djvu/125

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lhe a cinta, rasgavam-lhe a pele do dorso. A cada golpe, dava um gemido rouco: mas, pouco e pouco, de duros e aflitos os gemidos tornaram-se lentos e lânguidos: - e o pobre ermita, a cada vergastada, murmurava: “Socorro, meu Senhor, socorro, que estes golpes que dou em mim começam a ser com um contato delicioso!... Faz que eu sofra, Senhor! Dá ardor infinito aos vergões que sulcam a minha carne! Sopra para dentro das feridas a tua cólera! Que ela me queime e arda, como um pez inflamado!...” E, de repente, caiu como morto, com os braços estendidos.

Cheio de piedade, Cristóvão ergueu-o do chão, e empurrou-o como um corpo morto para dentro da cabana, e onde ele ficou estirado, com algum lento gemido que por vezes o sacudia.

A manhã clareava. Cristóvão adormeceu.

Então começou, desde esse dia, o seu serviço entre os ermitas. Todas as manhãs ia buscar um tonel à fonte, que brotava em cima, de entre rochas, e ia enchendo de ermida em ermida, as bilhas de barro. Depois cortava a lenha, amassava o pão, que se cozia num forno de tijolo, junto de uma capela onde os santos homens ouviam missa e comungavam. Era ele quem tocava o sino, punha giesta sobre o altar – e , por ordem do prior, espalhava seixos sobre o chão da capela, para que os joelhos dos ermitas se macerassem. Pela tarde, tendo reunido