Página:Ultimas Paginas (Eça de Queirós, 1912).djvu/127

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e eram como cadáveres de justos lapidados. Por vezes, Cristóvão oferecia-se para lavar as chagas, tirar os espinhos dos pés, curar com cinzas e água a mordedura dos insetos. Mas todos o repeliam, e para tornar as feridas mais irritáveis expunham-nas ao sol ardente, ou deitavam-lhes areia fina. Um imenso sofrimento cobria a montanha; e sobre ela o Sol parecia uma lâmpada triste, através dela o vento um gemido angustiado.

Era, porém, de noite, que ela se tornava terrível. Animados pela escuridão, os demônios subiam por cada caminho, para atacar os santos homens. Em cada cabana era uma luta temerosa. Os santos tinham a oração, as suas longas disciplinas armadas de unhas de ferro; mas os demônios, por seu lado, tinham as coisas deliciosas a que as almas sucumbem. Aos ermitas que vinham esfomeados, os diabos ofereciam longas mesas, cobertas de flores, onde os pavões assados arqueavam as penas entre os montes de frutas e os blocos de gelo; aos que tinham sido cavaleiros, mostravam montes de ouro, armas invencíveis, longos exércitos para ir conquistar reinos e saquear cidades ricas; aos velhos faziam ofertas de mitras, que lhes dariam entre os homens a suprema autoridade das coisas santas; - e a todos a tentação suprema, a Beleza, a Mulher, ora magnífica, desenrolando as tranças, erguendo uma túnica de gaze, ora