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Página:Ultimas Paginas (Eça de Queirós, 1912).djvu/17

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escuras, as raparigas passavam para os serões, sem temor, com a sua roca à cintura. Por trás dos muros de adobe, morria o murmúrio dormente dos terços e das coroas realizadas em coro, nas contas. Raramente um rafeiro latia por trás da cancela ou das sebes. No adro, o forno senhorial ainda ardia, tanta era a fartura do pão a cozer. E junto da fonte toldada pelas ramagens de um olmeiro, no banco de pedra onde aos domingos os velhos vinham julgar os pleitos de gados ou de águas, os dois arqueiros do castelo, que todas as noites rondavam a aldeia, dormiam sem cuidados, como frades, com os seus arcos caídos no chão.

Lentamente, ao rumor lento dos guizos, o bom lenhador e sua égua passaram, ao fim do povoado, a alta taberna do Galo Preto, que estendia através da estrada a sua comprida vara enfeitada de louro. Dois romeiros, com vieiras na murça de burel, bebiam à porta por grossos pichéis de estanho. Dentro um pobre menestrel, de longa guedelha caída sobre o gibão em farrapos, tangia a sua viola de três cordas: e um frade mendicante com a sacola entre os joelhos, um caldeireiro com os tachos de latão e a ferramenta pousada ao lado no chão de terra negra, jogavam dados sobre um banco, na penumbra das grossas pipas, que tinham todas uma cruz branca, para que os maus espíritos não azedassem o vinho.