Página:Ultimas Paginas (Eça de Queirós, 1912).djvu/182

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senhorial. Dentro, na grande sala abobadada, estavam as damas pálidas, uma junto da outra, com o condezinho entre elas, quase escondido nos seus vestidos. O velho senescal rezava de joelhos. E, em torno, amontoavam-se os in-fólios, os arquivos da casa, as grandes árvores genealógicas, tudo o que fazia o orgulho daquela família. Era como uma cidadela do feudalismo, onde tudo se achava resumido, a esperança de uma casa, os seus títulos, os seus tesouros, todo o seu orgulho. E tudo aquilo era ameaçado por uma plebe revolta!

Cristóvão fora humildemente postar-se ao funda da sala abobadada. E tão grande era o seu terror, tão arraigado o desdém pelos servos que não era nele que os Senhores pensavam, nem no poderoso socorro de sua força indomável, mas nas espadas dos pajens, a quem elas gritavam que defendessem a porta.

Através dos pátios, no entanto, já os gritos dos feridos ressoavam por entre o clamor da turba de Jacques, que vinha como uma onda que arrebentou os diques. E mal a porta da torre fora fechada, que sobre ela caíram enormes machadadas, entre uivos de furor, o ruído dos vidros que se partiam, os gritos dos servos assassinados. Dentro ninguém falava, todos com olhos cravados naquela porta atacada – velhas pranchas de carvalho e ferrugentas chapas de ferro, que eram a única defesa contra