Página:Ultimas Paginas (Eça de Queirós, 1912).djvu/194

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erguendo-o ao ar como um broquel contra os outros cavaleiros, que tinham estacado num espanto mudo, gritou desesperadamente: “resgate, resgate!” Os Jacques cercavam Cristóvão, querendo despedaçar o Senhor prisioneiro. E ele erguia mais alto o miserável, que nem se movia, seguro nas mãos de ferro, e gritava: “Resgate, resgate!”

Os outros cavaleiros, num furor súbito, correram sobre ele. Mas Cristóvão, saltando para a beira do precipício, debruçou sobre ele o prisioneiro, como se fosse despenhar na corrente e nas penedias, gritando sempre: “Resgate!” Então os cavaleiros pararam, e rapidamente consultaram-se, com grandes gestos dos seus guantes de ferro até que um, avançando, bradou: “Está resgatado!”

O velho avançou também, e expôs o resgate. Queria dinheiro, vinte sacos de pão, vacas, vinho, para sustentar a sua gente, um juramento sobre a cruz que não seriam perseguidos, e dois carros para levar os mantimentos. O cavaleiro estendeu a mão sobre a cruz do frade, e jurou.

Então os Jacques, abaixando as armas, esperaram – enquanto Cristóvão, sentado na rocha, tinha o cavaleiro atravessado sobre os joelhos, com a mão direita agarrando-lhe as pernas, com a esquerda a garganta. Pouco a pouco os servos saíram da castelo trazendo