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o resgate – e os Jacques desceram o caminho, rodeando os animais e os dois carros com os sacos, o ouro e os odres de vinho; Cristóvão ficara só com o cavaleiro. Quando o último homem desapareceu para além da colina, ele pousou o cavaleiro no chão com cuidado, e murmurou simplesmente: “Vai”.

E, sem se voltar, passo a passo, foi-se juntar aos Jacques.

Então começou, de castelo em castelo, através das províncias, a marcha dos Jacques. Das aldeias por onde eles passavam corriam a juntar-se-lhes miseráveis, servos revoltados, mendigos. Agora era uma multidão imensa que enchia os caminhos. Mas não havia neles nem violência, nem cólera. Iam mostrando, através das baronias ricas, a sua miséria de servos, e sem violência pediam esmolas. Cristóvão era como um grande pai, que mendigava junto com os seus filhos, pelos caminhos. Ao chegar diante dos castelos, mostravam os seus andrajos, as faces maceradas, as cicatrizes da servidão, e gritavam por pão. As portas abriam-se com fragor, e uns por piedade, outros por temor, davam dos seus cofres e dos seus celeiros. Dia e noite, Cristóvão mantinha a ordem na turba imensa. Não permitiam que despojassem as árvores dos frutos, que se tomasse o gado nas pastagens. Só era aceite o que a caridade dava. Se encontrava mendigos, histriões famintos,