pombal, a casa senhorial erguia a sua fachada simples e severa, de onde saía, através dos vidros miúdos encaixilhados em chumbo, a claridade pálida dos brandões da sala, ao lado da luz mais vermelha das cozinhas. Um torreão redondo, com balcão, erguia a uma esquina o seu agudo teto de escamas de lousa, encimado por um vasto cata-vento em forma de bandeira desdobrada. Aos cantos da casa, esguios dragões alados, voltavam para o pátio as goelas escancaradas, por onde as chuvas se escoavam nos regueiros da cisterna. E a lanterna de um servo, que passava sobre o terraço, alumiava grossas filas de abóboras pousadas no parapeito, secando ao sol.
O bom lenhador descarregou a égua na tercena de lenha. Depois, tirando o seu barrete de pele de coelho, empurrou a grossa porta da cozinha, armada de puas de ferro. Sob a chaminé, enfeitada de réstias de cebola e de ramos de louro seco, tão vasta que abrigava, de cada lado da lareira, um longo banco de carvalho. Uma chama clara de troncos, ardendo sobre brasido, alumiava as paredes caiadas, onde pendiam de ganchos de ferro odres de vinho, caldeirões reluzentes, e os sacos de especiarias. Com o seu longo avental de couro, um barrete de couro na cabeça raspada, o mestre cortava sobre um cepo imenso de pau, um anho esfolado. Um servente, de braços nus,