Página:Ultimas Paginas (Eça de Queirós, 1912).djvu/246

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chão areado, um pouco do seu pão para as andorinhas e os íbis...

Assim Onofre cismava e recordava, à porta da sua caverna, entre as rochas, envolto pelo Deserto. E como hóspedes bem acolhidos em casa aberta e farta, que voltam contentes, trazendo outros camaradas – estes pensamentos invadiam cada noite a alma do Solitário, arrastando outros, mais ligeiros, mais cheios de rumor e da alegria do mundo que ele abandonara. Todos vinham sempre daquela taberna do Galo, tão clara e fresca entre os sicômoros. Como ela era asseada e bem regulada! Junto da porta estava pendurado o longo azorrague para os servos que não estendessem, bem finamente, pelos pátios, a areia vermelha entre as sebes de rosas – ou que não esponjassem cada madrugada, sobre os muros caiados de amarelo, o sulco fumarento das lâmpadas; mas, na verdade, só sobre o açoite se amontoava o pó, tanta era a diligência e a ordem. Nenhum pão se amassava em Afrodite mais ligeiro, e branco, e doce, que o do Galo! E para comer as ostras de Canópia, que todos os dias chegavam pelos barcos do Nilo, em grossas caixas forradas de limo, vinham lá mercadores ricos, e até sacerdotes – porque os que servem os Ídolos são sempre vorazes. Também os gregos, naquele bairro novo, escolhiam sempre o Galo para rematar, à noite, com danças, as horrendas