Página:Ultimas Paginas (Eça de Queirós, 1912).djvu/247

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festas dionisíacas. Quantas vezes, antes que a Verdade o penetrasse, ele ajudara culpadamente a pendurar lanternas no largo, espalhando sicômoro, que assombreava o pátio, do lado das muralhas. Ao escurecer, os místicos apareciam, em bando, moços e raparigas, de volta do templo, coroados de hera e choupo, disfarçados com máscaras, embrulhados em peles de bode, cantando os hinos de Iacos. Os servos subiam logo da adega, segurando pelas asas um vasto cântaro de vinho novo. Caraças e peles eram arremessa-das para junto das mesas, armadas sob o velário de esparto, cobertas de azeitonas, de bolos de mel, de frutas em cestas, e de gelo que rebrilhava. Todos corriam a refrescar as faces, esbraseadas e cheias de pó, na larga piscina ao lado do alpendre dos dromedários. Dois moços dos mais ágeis, então, dançavam a pírrica, erguendo vasos à maneira de escudos, e brandindo, como lanças num combate, os tirsos de mirto e rosas. Depois o cântaro enorme de vinho era arrastado para o meio do terreiro, coroado de flores – e todos, de mãos dadas, rapazes alternando com as moças, a força entremeada à graça, bailavam, ao som triunfal das flautas e dos crótalos, a coreia sagrada, gritando: «Iacos! sê connosco!» Delírios abomináveis! Mas, no dançar daquelas pagãs, votadas aos fogos do Inferno, mais brancas que mármores, e com formas impuras de deusas,