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pó, colando-se a todo aquele pó, em que queria abismar o seu ser, soluçava:

– Vida inútil, vida estéril!...

Mas, então, pensou naquela criancinha que, agora, dormia, sã, livre de toda a dor, e tão docemente nos braços de sua mãe. Inútil a sua vida? Não. Ele descia aos abismos arrastado pelo orgulho – mas, ao menos, no mundo ficava, por obra dele, esse pobre pequenino, que já não sofria, nem levava, gemendo, a mãozinha à sua pobre face cheia de chagas!

Então, uma Voz muito doce, murmurou sobre ele:

– Onofre!

O velho ergueu a face lentamente, depois o corpo trémulo, e começou a caminhar. Mas os seus passos tremiam tanto, que se encostou ao velho muro que ele mal via já, sob a névoa de lágrimas, e no desmaio, que lho velava.

Assim se arrastou um momento, tremendo, gemendo.

Mas, doce e cheia de carinho, a Voz ao seu lado murmurou:

– Onofre!

Então Onofre voltou a face – e avistou uma forma que resplandecia toda, de brancura, na solidão do crepúsculo. Mudo, já todo frio, deu para ela um lento passo – e desfaleceu, caiu