e o dinheiro das suas arcas, a um afilhado de sua mulher, moço lido em livros, e que era provedor de el-rei em Lamego. Muitas vezes, porém, suspirava, vendo, diante de um casebre, um vilão que, com o filho sobre os joelhos, construía uma armadilha para os pássaros – ou um velho que sorria, amparado nos seus passos trôpegos por um moço forte, e cheio de respeito. Agora, porém, chegava o bem de que desesperara. O bom Senhor, repentinamente remoçado, com a face toda risonha e dilatada no orgulho da sua paternidade, começou, por todos os arredores, a anunciar a nova esplêndida – até a um sórdido ermitão que vivia numa cova no fundo do vale, até ao tosquiador que viera à tosquia dos gados. Um recoveiro partiu logo para Lamego, a encomendar ao mestre entalhador um berço de grande riqueza. Todas as aias, tirando das arcas os linhos mais finos, trabalhavam no enxoval: – e D. Tareja, ao fim do primeiro mês, fora comungar ao mosteiro, para que a Hóstia divina fosse o primeiro ali-mento do menino bem-desejado.
De que cuidados cercava o bom Senhor aquela dona excelente, cujo ventre lhe parecia precioso como um sacrário!
Inquieto, constantemente lhe tirava das mãos com brandura as chaves da despensa, para que ela se não fatigasse nos governos do solar. Ele, só ele, preparava o vinho reconfortante, com canela,