Página:Ultimas Paginas (Eça de Queirós, 1912).djvu/363

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mel, ervas aromáticas, que lhe devia dar forças e valor: – e sem cessar, quando ela caminhava, estendia os braços, receando todos os degraus, qualquer pedra, uma prega do vestido em que ela tropeçasse.

Era então Inverno, um Inverno muito duro, que todas as manhãs branqueava de neve os prados, e os tectos dos casebres: e D. Rui e D. Tareja, sentados ao braseiro, infindavelmente conversavam sobre o «seu menino». Ele tinha já o seu destino tão claro e marcado, como se um letrado o tivesse escrito num códice. O seu nome seria Gil Mendo: os melhores ledores do mosteiro vizinho e amigo lhe ensinariam as letras, a escrita, e a arte de contar: escudeiros hábeis viriam adestrá-lo na arte de cavalgar, no manejo das armas, e tudo o que pertence à caça: depois ele, D. Rui, o levaria aos bispados de Lamego, do Porto, de Coimbra, para conhecer as cidades, e tratar com os ricos-homens. Depois casaria com uma dama virtuosa, de rica linhagem, e governaria, em tranquilidade, o seu senhorio – porque nenhum deles desejava que o seu filho afrontasse os perigos das guerras, ou se partisse para terras estranhas.

E quando assim conversavam, a ambos vinha uma inquietação que não diziam – porque certas palavras, quando soltas, são apanhadas pelos espíritos maus, que as condensam e delas