Página:Ultimas Paginas (Eça de Queirós, 1912).djvu/368

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magnífico, com as suas barbas de neve sobre o saio de escarlate, caminhava, no seu andor, aos ombros de quatro cavaleiros peões de Gonfalim, a Senhora Madrinha, coroada de ouro, com um manto novo, onde as estrelas de ouro, sobre o azul do veludo, faziam como um céu de Verão. Para maior honra (e para que o menino não fosse surdo), foi D. Mendo, o padrinho, que puxou a corda do sino, deu os primeiros repiques festivos. Toda a pedra da igreja desaparecia sob as colgaduras de veludo branco. E quando a ponta de uma faixa de seda que se prendia, pela outra ponta, às mãos da Senhora, veio tocar a penugem fina e loura da cabeça de Gil, nuzinho e quieto, nos braços do padre, sobre a pia – todos observaram, com espanto, que o menino sorria às luzes das tochas, e as pontas dos palmitos se agitaram, e alguma coisa de branco, como o sulco de uma asa, passou na penumbra do Baptistério.

Depois um enorme festim, tumultuoso e voraz, reuniu a rude aldeia. No terreiro três vitelas inteiras assavam, em fogueiras claras. O vinho, correndo sem cessar das pipas enfeitadas de louro, fazia poças roxas, onde as crianças se rolavam. A cada instante os alaúdes e violas dos menestréis chamavam os moços e as raparigas, afogueados, com a boca cheia, e toucados de rosas, a longas danças estonteadas sobre a relva pisada. Um empadão imenso