Página:Ultimas Paginas (Eça de Queirós, 1912).djvu/369

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trazido numa padiola, e precedido por dois anões que cabriolavam, apareceu ao fim da tarde, entre aclamações: tirando a espada, um cavaleiro-peão fendeu-lhe a tampa, maior que um tecto de cabana: – e de dentro fugiu um bando de pombas, que batiam no ar, com esforço, as asas pesadas de gordura, perseguidas pelos moços, que as apedrejavam com pedaços de terra, com grossos pães de sêmea e com os pratos de estanho.

Mas de repente, junto da ponte levadiça, surgiu uma bandeira: – e ao lado de D. Mendo, e seguido do capelão, do intendente, e das aias, com altas toucas de renda, apareceu o bom Senhor D. Rui, pálido de alegria, de orgulho, que trazia nos braços, todo coberto de rendas, para o mostrar ao povo, o seu filho, o seu herdeiro. Raparigas correram com cestos cheios de folhas de rosa que lhe atiravam: – e, da mesa de honra onde estava o meirinho de el-rei, dois velhos vieram, um com um prato cheio de sal, que simboliza a Agudeza de Espírito, outro trazendo um ovo que significa a Duração da Vida, para oferecerem ao menino, como votos tangíveis. E foi um espanto, um longo murmúrio maravilhado, quando Gil, debatendo-se entre as rendas, estendeu um bracinho para o sal, e outro para o ovo. Os velhos, muito graves, reconheceram que o menino era um eleito de Deus – e ninguém duvidou que ele