Uma água fria saía de entre rochas, e, caindo de pedra em pedra, formava um riacho claro, que ia cantando e fugindo, sob a ramagem de grande arvoredo. Mas, num sítio onde as árvores clareavam, a água mais lisa e larga fazia um remanso, como um lago pequenino – e, daí, subia desde a margem húmida e florida de margaridas, até ao cimo de um doce outeiro, uma relva igual e tenra, onde os gados podiam pastar.
Ali desmontava D. Gil, prendia o seu cavalo a um tronco de árvore: – e se tudo estava deserto, tocava na sua buzina. Bem depressa um rafeiro ladrava: – e pelo alto do outeiro, redondo e verde, aparecia uma pastora, com a roca à cinta, e com ela, um rebanhozinho de ovelhas. Ambos sorriam, corando, a pastora, e o Senhor D. Gil. E enquanto o gado bebia na água clara, ambos se sentavam na relva, à sombra da mesma faia que os tinha abrigado, na tarde em que D. Gil, vindo ali descansar de uma longa correria nas serras, lá encontrara a pastora, no momento em que uma nuvem grossa passava, e dela caía um grosso chuveiro.
Desde então, todas as sestas ali se encontravam, na mesma relva se sentavam, e mesmo sem que falassem, só por se sentirem junto um do outro, naquela solidão, sob as sombras que na véspera os tinham coberto, os seus olhos,