brilhando e rindo, se humedeciam de felicidade. Um pobre surrão de estamenha, cingido à cinta por uma corda, era todo o vestuário da pastora: através dos rasgões que nele tinham feito os silvados, a pele do seu peito, do seu joelho, brilhava, como a brancura macia de um mármore fino: e sob os cabelos despenteados, na face linda que o sol e o ar da serra crestara, o largo azul dos seus olhos grandes, que pareciam sempre maravilhados, tinham o brilho divino do azul do céu, e a graça tímida do azul dos miosótis. Gil só sabia que ela se chamava Solena, e que servia de pastora, desde pequena, a um velho que tinha a sua granja para além das colinas. Sentados na relva fresca, tinham grandes silêncios: ele tomava a mão da sua amiga, e fazia girar, sorrindo, um pobre anel de chumbo, que lhe enfeitava o dedo: ela erguia da relva o gorro de Gil, e acariciava as plumas brancas que o ornavam. Brincando, ela lavava, no riacho claro, os seus pobres pés que a serra endurecera: e ele apanhava flores silvestres, que lhe metia, rindo, no cabelo. O cuidado de ambos era saber se tinham pensado um no outro: e baixo, com os dedos enlaçados, contavam os sonhos que lhes tinham encantado a noite.
Nunca Gil falava do rico e nobre solar que habitava, mas ela decerto o considerava como filho de um rei, igual ao de uma história de fadas