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sorvos, largos e fundos, Cristóvão esvaziou um dos peitos.

Começou então a viver uma vida intensa e rápida. Dormindo, a sua respiração era mais que uma brisa entre ramos; ao acordar os seus gritos abalavam a cabana; e na sua voracidade, sem parar, secava o leite da mãe, chupava através de um pano largos pedaços de mel silvestre, e ficava trincando com impaciência o dedo que, para o consolar, o pai lhe metia entre as gengivas, mais duras que pedras.

E, no entanto, aquela monstruosidade, que o assemelhava a uma grossa e negra raiz, compunha em formas familiares de um corpo grosseiro, mas humano. A pele, perdida a aspereza negra, era lisa e vermelha como uma casca de maçã: a cabeça emergia dos ombros como uma decisão de começar a vida; e as pernas agora direitas, com dois grandes pés chatos, eram tão fortes que, se as agitava, quase fazia tombar o berço.

E bem depressa, com terror da mãe, não coube no berço. Como era no calor de maio, o bom lenhador fazia com musgo seco, recoberto de um mantéu, um leito na horta, onde o deitavam sob uma mimosa em flor. Mas Cristóvão rolava para fora do mantéu, procurando a terra quente e mole, onde se estendia, se dilatava com delícia, como num elemento preferido, sorrindo quieto, num sorriso mudo,