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Página:Ultimas Paginas (Eça de Queirós, 1912).djvu/404

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errante, para socorrer todos os fracos: – e agora, que aprofundava aquela ideia, nenhuma existência lhe parecia mais nobre e mais bela. O mundo vira já muitos desses cavaleiros famosos. Mudos, cobertos de ferro, seguidos de um só escudeiro com a Lança, eles percorriam os remos da Terra, protegendo os pobres e os mesteirais, libertando damas encerradas em torres, derrotando os gigantes daninhos, derrubando os príncipes dos tronos usurpados, remindo povos cativos, destruindo as feras que assolam as searas, e, a caminho de conquistar um reino, parando a consolar uma criança que chorava num horto. Um anjo voava por trás deles com as asas abertas: – e as suas façanhas não provinham da irresistibilidade da sua força, mas da evidência da sua justiça. Uma tal vida deslumbrava D. Gil – e a sua possibilidade era clara, pois que, sem procurar aventuras, só porque sete lanças o seguiam, ele, libertando O recoveiro no pinhal, fizera obra de Paladino.

Então todos os seus pensamentos foram dados a esta empresa. Todos os dias se adestrava em jogar a espada com qualquer mão, em disparar bestas, em vibrar o montante – e o velho D. Rui, do balcão da sala de armas, aplaudia estes exercícios, que tanto convêm a um fidalgo que preza Deus, a honra e a linhagem. Por sua ordem, o intendente comprou o melhor alazão de guerra, que nesses tempos apareceu