Página:Ultimas Paginas (Eça de Queirós, 1912).djvu/414

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do convento estavam expostas, sobre um pequeno altar, para dar saúde ao bom abade.

Um frade rezava junto ao vasto leito de carvalho. Outro pisava uma massa dentro de um almofariz – e dois noviços, com ramos de louro, sacudiam as moscas da face venerável, que o mal empalidecera.

D. Rui lamentou o bom abade – e, sentado num escano aos pés do leito, contou logo como, justamente o seu Gil, começara agora com o grande desejo de saber a arte de curar aquele e outros males.

– Pois mandai-o estudar a França!... – acudiu logo o D. Abade, estendendo a mão fora da roupa, com um gemido. Não sei que haja mais útil saber. Mas nós, aqui neste reino, nem uma dor sabemos calmar... Não o digo pelos doutos padres desta casa!... Mas já desde domingo, que foi a merenda, estou aqui em trabalhos... Estamos em grande atraso. Mandai-o estudar a França.

E, pregando os olhos nas santas relíquias, ficou mudo.

Só quando D. Rui lhe beijou o anel da mão, caída sobre a colcha de seda, tomou a voltar o rosto, a murmurar:

– Mandai-o estudar a França.

D. Rui recolheu ao solar melancolicamente. Deus, decerto, pela voz do D. Abade, que sofria cercado de relíquias, lhe indicava aquele