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cosera com tanto amor, jaziam inúteis no fundo da arca, sem que ele tivesse jamais sido bastante pequenino para se mostrar, com eles, pela sua mão, aos domingos, no adro da aldeia. E quando o via, ainda mudo e inocente como uma criança de peito, e já tão grande, enchendo quase a porta da cabana, onde costumava estar horas, parado, a olhar monotonamente o ar e o sol, a pobre mãe, desconsolada, sentia uma lágrima umedecer-lhe a face.

O que a consolava era senti-lo tão manso e doce. Se ela, assustada, lhe tirava o machado do lenhador, que ele gostava de erguer, ou se o afastava do lume, que incessantemente o atraía, ele não mostrava nem resistência nem impaciência. Não era mais inerte um fardo de lã. Permanecia longas horas na tripeça em que o sentava, ou à sombra , debaixo da cerejeira da horta. O seu encanto era ver fiar a mãe, atento profundamente ao rodar, ao cantar do fuso. E a cada instante lhe tomava a mão, para nela pousar um beijo mudo, sem brilho, que não findava. Ela apertava-o ao seu coração, murmurando, desolada:

— Por que não és tu mais pequenino?

E, no entanto, já perto dos quatro anos, não falava. O único som que saía, cavo e grosso, dos seus lábios cor de aurora, era: Han! Han! Se tinha sede apontava com o grande dedo, rosnava: Han! Han! Para sair mostrava a