Página:Ultimas Paginas (Eça de Queirós, 1912).djvu/437

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renda de folhagens de um verde claro e tenro, como não há em Agosto. Todo o chão era um musgo fresco. E no silêncio fino e alto, aqui e além, um melro cantava. Com os sombreiros na mão, a passo, respirando deliciosamente, eles penetraram naquela frescura bendita, por entre os altos troncos alinhados, como ruas de uma coutada real.

E o bosque parecia infindável, cada vez mais fresco, mais verde, mais silencioso. Por fim, um espelho de água, que o sol batia, brilhou entre os últimos troncos: – e, espantados, os dois cavaleiros pararam à beira de um belo lago, todo cercado de arvoredo, cujas longas ramagens pendentes roçavam a água. Tão clara e pura era ela, que eles viam no fundo reluzir uma areia muito fina e como misturada de pó de ouro. No meio surgia uma ilha com um arvoredo, que fazia um grande ramalhete verde. E, à beira da água, seguia um pequeno caminho, limpo e branco, orlado de flores silvestres.

Por esse caminho meteram lentamente, quase esquecendo a fadiga e a sede, no assombro daquele divino recanto de verdura e paz silvana: – e de repente, saindo do arvoredo, encontraram uma vasta e fresca relva, à beira da água, onde estava preguiçosamente estendido um cavaleiro, tendo ao lado um grande alforge aberto, e, espalhados na relva, garrafas, empadões, e fundas taças de prata. Ao tronco da árvore,