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que lhe dava sombra, estava encostada uma enorme lança branca; dos ramos estendidos como um toldo, pendia o seu escudo negro. Dois cavalos morzelos, com rédeas de couro escarlate e freios de ouro, pastavam junto da água: – e um escudeiro, que, debruçado, desarrolhava uma garrafa que entalara entre os joelhos, voltou para os cavaleiros uma face estranha e grotesca, rapada como a de um frade, com dois olhos negros que chamejavam.

Cortesmente, D. Gil tirara o sombreiro. Com grande cortesia também, o cavaleiro se ergueu da relva.

Era um formidável homem de armas, de barba ruiva, findando em bico, as cores vivas e quentes de um flamengo, e largo, robusto peito cingido numa sobreveste negra. O cabelo, mais ruivo ainda que a barba, erguia sobre a testa uma poupa aguda e flamante, e recaía em grossos anéis sobre os ombros fortes, capazes do mais duro esforço, e cobertos por um brial escarlate. Dos olhos deste homem, pequenos e redondos, saía um brilho infinitamente esperto, decidido e risonho.

– Bem fatigado deveis vir, senhor cavaleiro, com tanta calma e pó – exclamou ele. – Esta sombra chega para dois, a merenda está sobre a relva, e quem vos convida, que é o Senhor de Astorga, só quer alegria e paz... Harbrico!