A este grito, que um vivo olhar acentuara, o escudeiro de face de frade correu a segurar o estribo, para que o Senhor D. Gil desmontasse. Mas já Pêro Malho, mais pronto, agarrara o loro: Harbrico então, risonhamente, correu a tirar de dentro do alforge, de cores estridentes, um estofo de samite, rico e macio, que estendeu na relva, para o Senhor D. Gil se recostar.
O moço gentil corava de gosto a estas honras que lhe fazia o Senhor ilustre de Astorga.
– Bendigo – murmurou ele com a mão sobre o peito – bendigo os duros caminhos que me trouxeram a tão doce acolhimento... O meu nome é D. Gil de Valadares, e o solar de meu pai é bem falado, e bem honrado na nossa terra da Beira.
Com os dedos gordos, que findavam em unhas muito agudas e curvas, o Senhor de Astorga aguçava a ponta da barba, pensando:
– Valadares, Valadares... Um D. Rui de Valadares, conheci eu em Coimbra, que tinha casa de boa pedra, no bairro cintado ao pé da Sé, e era vedor do Senhor D. Sancho II de Portugal...
– Meu avô.
O Senhor de Astorga atirou uma palmada à coxa:
– Pois soberbo avô tínheis, Senhor D. Gil, homem de boa alegria e façanha! Muito bem