me lembro de uma tarde de Maio, em Lorvão... Mas melhor vão, à sesta, as histórias alegres! Agora todo esse suor e pó vos está pedindo água clara e lustral...
E, diante de D. Gil, o ondeante Harbrico sustentava numa das vastas mãos cabeludas uma bacia de prata, na outra uma fina toalha, que arrastava sobre a relva as rendas ricas da sua franja. Com que delícia banhou a face! Da água saía um aroma de benjoim. E uma frescura penetrante calmou de repente toda a sua fadiga dos ermos atravessados... Mas já o ágil Harbrico arrojara toalha e bacia, e voltava, todo ele ondulando, com um denso molho de penas rutilantes de galo: – e tão fina e destramente lhe sacudiu o espesso pó dos caminhos, que a sobreveste negra, os boteirões de couro escarlate, pareceram como novos, sem ter servido, e as esporas de ouro rebrilharam com um lampejo desusado!
D. Gil grandemente se maravilhava. E por trás dele, Pêro Malho, tendo limpo e pendurado as armas do amo, e lançado a pastar as suas mulas, junto aos dois corcéis negros, considerava o Senhor de Astorga com assombro e desconfiança. Era sobretudo aquele tufo de cabelo erguido na testa, como uma crista flamante, que o inquietava. E que alforge era aquele que continha, na sua estreita bolsa, bacias de prata, bragais de linho fino, toda a