hucharia de uma mesa real, e tapizes de rico samite? E onde houvera mais coruscante olhar, negro como fendas do Inferno, do que aquele do estranho Harbrico? O bom Pêro coçava o queixo, com um desejo, que o invadia, de gritar de repente, por sobre o fidalgo, o escudeiro, e os alforges, o nome afugentador de Jesus, Maria, José.
Mas, justamente, Harbrico espalhava diante dos cavaleiros uma deliciosa e irresistível merenda! Eram gordas perdizes aloiradas, um vasto salmão frio e cor-de-rosa, com um molho de salsa e cravo que perfumava o ar, cestos de pêssegos e uvas, como só há nos pomares de el-rei... E às garrafas, cobertas de veneráveis crustas negras, deitadas com cuidado na relva, o destro Harbrico ajuntou pichéis de vinho espumante e branco, que ele trouxera de entre a espessura do bosque, e onde cintilavam pedras de gelo. Esfomeado, sedento, o bravo Pêro escancarava os lábios de onde escorria uma baba. E, com convicção, pensou: «Venham de Deus, venham do Demónio, quando há fome e sede, não se recusam vinho nem perdiz». E, servilmente, fraternalmente, sorriu a Harbrico, que mostrou também a grande dentuça amarela e aguda, como a de um lobo.
Todos aqueles bons comeres, e frescura de vinhos, grandemente encantavam D. Gil! Ele, que, em Gonfalim, nas festas do solar, sempre fora indiferente