– Para o grande saber, só há na Terra uma escola, e essa em Toledo.
E como Gil o olhava perplexo:
– Que pretendeis vós aprender?
– As artes médicas.
O Senhor de Astorga encolheu os ombros, com largo e risonho desdém:
– Oh! para isso decerto tendes em Paris mestres que bastem. E mesmo em Zamora encontrareis o bom físico árabe Reimão Esterrávia! E até na vossa Coimbra tendes homem professo, que tudo vos podia ensinar, em Mestre Esteves Garracho!... Mas vós, Senhor D. Gil, um moço de tão boa feição, de altos espíritos, que decerto amais a fama, como vos quereis amesquinhar em saber tão mesquinho?
D. Gil, que corara aos louvores, murmurou surpreendido:
– E que outro saber há mais?
Mas uma risada aguda, silvada, cascalhante, ressoou por trás, entre os troncos das árvores. E os dois cavaleiros, voltando o rosto, viram Harbrico, sentado na relva, ao lado de Pêro, com vitualhas e garrafas espalhadas diante, que se torcia, com as mãos nas ilhargas magras, a boca fendida numa hilaridade disforme, gritando «que rebentava!» – enquanto ao lado, debruçado sobre ele, com o olho brilhante, o dedo espetado, Pêro lhe segredava uma história. Os dois molossos, sentados em frente, conservavam uma gravidade sombria.