Página:Ultimas Paginas (Eça de Queirós, 1912).djvu/461

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um povo rural. Não se assuste, meu civilizadíssimo amigo. Eu não quero significar que o Brasil devesse continuar o patriarcalismo de Abraão e do livro do Génesis, reproduzir Canaã em Minas Gerais, e pastorear o gado em torno das tendas, vestido de peles, em controvérsia constante com

Jeová. Menos ainda que se adoptasse o modelo arcádico, e que todos os cidadãos fossem Títiros e Marílias, recostados sob a copa da faia, tangendo a frauta das Éclogas...

Não; o que eu quereria é que o Brasil, desembaraçado do ouro imoral, e do seu D. João

VI, se instalasse nos seus vastos campos, e aí quietamente deixasse que, dentro da sua larga vida rural e sob a inspiração dela, lhe fossem nascendo, com viçosa e pura originalidade, ideias, sentimentos, costumes, uma literatura, uma arte, uma ética, uma filosofia, toda uma civilização harmónica e própria, só brasileira, só do Brasil, sem nada dever aos livros, às modas, aos hábitos importados da Europa. O que eu quereria, (e o que constituiria uma força útil no Universo) era um Brasil natural, espontâneo, genuíno, um Brasil nacional, brasileiro, e não esse Brasil, que eu vi, feito com velhos pedaços da Europa, levados pelo paquete, e arrumados à pressa, como panos de feira, entre uma natureza incongénere, que lhes faz ressaltar mais o bolor e as nódoas.

Eis o que eu queria, dilecto amigo! E considere