Em Portugal, porém, foi-se sempre lamentavelmente mesquinho com os homens de letras. Mesmo quando a literatura vivia exclusivamente da generosidade da nobreza, e era o luxo de toda a casa morgada ter, além do seu capelão privado, o seu vate doméstico – um espírito da ordem do Nicolau Tolentino o mais que granjeava, a troco de trabalhoso soneto ou cansativa ode, era algum resto de peru assado, sobejo frio da copa; e em ocasiões de munificência, dia de anos ou baptizado, lá vinha então uma vara de briche para calções ou uma peça de 7$500 réis, embrulhada num papel – e às vezes falsa. Mas, desde que as brutalidades da Democracia desarranjaram esta bela ordem de coisas, e que nunca mais houve em Portugal um fidalgo que tivesse peru de sobejo – nenhum escritor tornou jamais a receber, em metal ou comestíveis, o menor testemunho de simpatia literária dos seus compatriotas liberais...
E isto faz-me pensar como em Portugal, as pessoas dos escritores, inspiram pouca curiosidade e perturbam pouco as imaginações meridionais. Lá fora, em França, na Inglaterra, na Alemanha, mesmo sem contar os semideuses radiantes e irresistíveis, como Byron, como Lamartine, como Goethe, não há poeta que não tenha recebido um dia alguma dessas vagas e difusas cartas de amor, algum desses anónimos