sem agonia, o seu pobre corpo ia como que desaparecendo, tão magro e transparente que ela via a vermelhidão da lareira através das mãos abertas.
Desde que ela adoecera, Cristóvão não abandonara a beira do catre, pasmando para a mãe, ansiosamente, como no esforço de compreender porque ela ficava deitada e de olhos adormecidos, quando sol envolvia a cabana, e até as árvores tinham acordado. Por vezes tocava-lhe o braço, o ombro, com um pequenino gemido triste. Ela murmurava, com toda a sua alma: “Meu pobre filho! meu pobre filho!” Mas voltava o rosto amargamente, se o via ir, com os seus passos lentos e balançados de urso doméstico, erguer com uma só mão a pesada bilha de água, esvaziá-la de um trago.
Era então o fim do outono. Já o lenhador, ao recolher, sacudia o saião, todo molhado da umidade da floresta: e um grande vento por vezes gemia nos pinheirais. Toda a noite a candeia ficava acesa. Numa enxerga, ao lado da lareira, Cristóvão dormia sob peles de cabra, fazendo um grande vulto na sombra, ressonando tão fortemente como uma forja. E a pobre mulher, o homem ao lado, sentado na tripeça, entorpecido de fadiga e de sono, não dormia, pensando no abandono e na tristeza em que caíra aquela pobre cabana, de que ela fizera um ninho tão doce! Quem cozinharia a