Eram as aventuras de um justo: abundavam lá os exemplos de modéstia, de diligência, de caridade, de pudor; mas todas estas virtudes, suaves e íntimas, se exibiam longe, em Dijon, na Alsácia, e nas estalagens da Picardia. De sorte que, para mim, todos os justos, bem como todos os heróis, só em França se produziam na perfeição, como os espargos, nessa França de onde tudo que é amável vinha, de onde eu mesmo viera, como outras crianças, num açafate de alfazema e cravo. Depois, comecei a subir o duro calvário dos Preparatórios: e desde logo, a coisa importante para o Estado foi que eu soubesse bem francês. Decerto, o Estado ensinava-me outras disciplinas, entre as quais duas, horrendas e grotescas, que se chamavam, se bem recordo, a Lógica e a Retórica. Uma era destinada a que eu soubesse bem pensar, e a outra, correlativamente, a que eu sou-besse bem escrever. Eu tinha então doze anos. Para eu saber pensar, o Estado e os seus professores forçavam-me a decorar diariamente laudas de definições, de fórmulas misteriosas, que continham a essência, o segredo das coisas, compiladas do francês, de velhos compêndios de Escolástica. Era terrível! O lente, casmurro e soturno, perguntava:
– Quantos são os impossíveis?
Eu devia papaguear em voz clara:
– Dois. O impossível físico, que o homem