É tempo, pois, de considerar se nos convém, como table-d’hôte, a literatura da França – a nós, parasitas, que em questões de literatura e de tudo, vamos comer às casas alheias. Afoitamente digo que nos não convém. A literatura francesa, neste último quartel do século, sofre de um obscurecimento, um desaparecimento de sol entre nuvens, de que o seu génio decerto sairá mais radiante e iluminado; mas por ora só nela há uma grande sombra, que passa. De cima a baixo, das regiões do alto saber e do alto pensar até à literatura do Boulevard, há um enfraquecimento, um desequilíbrio, um enervamento, que de um lado leva à extravagância, e do outro à banalidade. Extravagância, banalidade! O grande, luminoso, exacto, crítico espírito francês está oscilando entre estas duas inferioridades. E em toda a linha da criação literária assim oscila, ora dando pulos grotescos com o desagradável Richepin, ora estendendo-se, chatissimamente, ao comprido, com o detestável Ohnet. Veja-se a mais alta figura literária da França, e a mais francesa – Renan. Espírito da mais requintada e subtil finura crítica, saturado de saber, possuidor de uma língua a mais luminosa e a mais bela, tendo o que há de melhor em Racine e de melhor em Voltaire, com alguma coisa de mais aveludado, de mais acariciador, que prende, irresistivelmente arrasta a alma – que ensina ele, hoje, este Mestre,