Página:Ultimas Paginas (Eça de Queirós, 1912).djvu/510

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uma reserva, misturada de desdém e de amor, reprovando e amando, e sentindo que tem naquele homem, que a Europa tanto lhe aclama, um poeta que é ao mesmo tempo medíocre e imortal.

De resto, a inteligência e a poesia, raramente vão juntas. Eu só conheço um homem, uma excepção, em que o sumo génio poético se alia à suma razão filosófica. É o nosso Antero de Quental. Nos seus Sonetos, exprime esta coisa estranha e rara – as dores de uma inteligência. É uma grande razão debatendo-se, sofrendo, e formulando os gritos do seu sofrimento, as suas crises, a sua agonia filosófica, num ritmo espontâneo, da mais sublime beleza poética; cada soneto é o resumo poético de uma agonia filosófica. E é por isso que a Alemanha se lançou sobre este livro de Sonetos (que Portugal não leu) e os traduziu, os comentou, os fixou religiosamente na sua literatura, como uma coisa rara e sem precedentes, uma pérola fenomenal de criação desconhecida, única no grande tesouro da Poesia Universal. Mas em França não há disso. E a sua clara inteligência tem-lhe vedado os triunfos poéticos. Depois da curta emoção de Musset, a França recaiu mais que nunca na poesia que é admirada por ter as qualidades da prosa.

E isto, naturalmente, devia levar, e levou num