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que tornaram nestes últimos anos a poesia, em Portugal, uma coisa grotesca e pícara.

Mas mesmo em França a sua influência, ou antes o seu contágio, não foi menos lamentável. Nada há mais tirânico do que a moda nas formas: a bota bicuda, sendo moda, impõe-se irresistivelmente aos espíritos mais profundos; e a cabeça de artista em que brilhem as ideias do mais puro gosto, ou rolem os sistemas mais profundos, submete-se resignadamente ao chapéu que decrete em Londres The Journal of Fashion. Ninguém gosta de aparecer na rua menos bem entrapado que o seu concidadão, seja em casaco ou em estilo. E foi assim que veneráveis poetas franceses caíram, já entrados nos dias da sua velhice, no Parnasianismo: Autran e Laprade, eles mesmos, passaram uma camada de esmalte novo, das cores da moda, sobre os seus severos e suculentos alexandrinos: e viu-se o bardo Banville, o amável e fecundo bardo que desde 1830 cantava de omne re scibile numa lira larga e fácil, descer ao Boulevard e espantar a multidão, mais fecundo e amável que nunca, com ritmos e rimas tão sarapintados, tão desengonçados, que não se sabia bem se aquilo que cabriolava e reluzia no papel, eram os versos de um poeta ou as bolas de um pelotiqueiro.

Mas estes tempos dos Parnasianos ainda eram os bons tempos. Hoje, que os poetas aclamados