Logo à porta a velha, apertando as mãos, contava como Cristóvão se conservava quieto, e tão bom, brincando na horta ou atento às histórias, que ela sabia, de fadas e de mouros. O lenhador, coçava a barba, contente: - e Cristóvão, diante da lareira, onde a lenha estalava, sorria, pasmadamente, sacudindo as mãos cheias de terra.
Quando os frios vieram, a serradeira, às vezes, ao lidar na cabana, gemia, esfregando os joelhos. Cristóvão arregalava para ela os olhos compadecidos. E um dia que ela coxeava, gemia mais, saindo para a fonte, Cristóvão timidamente tocou na asa do grosso cântaro de barro, murmurando, muito vermelho: “Eu vou”. Espantada, ela deixou, ficou à porta vendo Cristóvão desaparecer entre os olmos e logo voltar, subindo a vereda, sob a chuva fria, com o cântaro que lhe pesava menos no braço estendido que uma malga ligeira. Todo ele sorria, com um contentamento profundo. A velha limpou-lhe os cabelos molhados – e, pela vez primeira, desde que guardava a cabana, tomando Cristóvão como um ser humano, falou das dores dos seus pobres ossos, no seu homem que lhe deixara a velhice sem pão, na morte que vinha perto com uma grande foice. Mas a face que Cristóvão erguia para ela, agachado à lareira, voltara à imobilidade, sem alma e sem calor, de uma face feita de pedra.