E foi para o seu velho gato, que tomara no regaço, não para Cristóvão, que a serradeira prolongou, no silêncio, os queixumes da sua velhice. Nessa tarde, porém, Cristóvão varreu a cabana com a vassoura que a velha, coxeando e gemendo, lhe metera nas mãos.
E, desde então, ele começou a fazer pouco a pouco todos os trabalhos domésticos. Através do longo inverno a serradeira não se moveu mais do canto da lareira, fiando na sua roca, com o gato agachado aos pés. Cristóvão ia encher a bilha à fonte, acendia a lareira, areava as panelas, polia as ferragens do armário, batia os colchões dos catres – e mesmo aos sábados, numa dorna cheia de água quente e cinza, fazia a barrela da roupa. E, em todos estes serviços, punha uma aplicação, um interesse profundo. Todo o seu imenso corpo se tornava mais ágil, mais pronto. Já dos seus grossos lábios, que só se alargavam num sorrir pasmado e morto, saíam murmúrios vivos: “Está bem! Ficou bem... Cristóvão limpou!”
À noite, à ceia, esfarelando com lentidão a broa no caldo, o lenhador contemplava com espanto o seu Cristóvão, que lhe parecia diferente, mais atento, desentorpecido, conhecendo já que ele abatia árvores numa floresta, que a égua branca, e as terras, e os gados que pastavam, pertenciam a um Senhor, e que aos domingos se descansava para visitar Deus na sua