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Página:Ultimas Paginas (Eça de Queirós, 1912).djvu/55

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casa, onde os sinos cantavam no ar. Mas o que encantava o bom lenhador era o cuidado novo de Cristóvão em o servir – desejo que lhe nascera no coração de repente, sem que ninguém lá o semeasse. Mal o sentia subindo das terras, ia, com o seu andar embalado e lento, tomas as rédeas da égua, para a levar ao curral, onde a palha estava serrotada, e o balde cheio de água; na cabana, de joelhos, desapertava-lhe os cordões das grossas botas de couro, que a lama cobria; e estendia diante do lume, com cuidado o seu surrão de estamenha, trespassado das umidades da mata. O bom lenhador murmurava, radiante, como um bem-aventurado: “Foi Deus que te mandou, filho meu!” E nos olhos com que Cristóvão lhe sorria, ele, apesar de rude e simples, percebia uma claridade, um brilho desacostumado. O seu inocente já pensava, já compreendia. Pálida e ainda hesitante, mas certa e de todo visível, uma almazinha despontava naquele corpo imenso, como uma pequena luz numa grande torre.

Depois da ceia, aproveitando o resto do candil, o lenhador tinha já o contentamento inefável de conversar com o seu filho, como outrora com a sua boa companheira – contar o seu duro dia na mata, a árvore que fora derrubada, as madeiras vendidas para as obras do Mosteiro, as queixas dos serradores contra o senhor senescal. O seu pobre lar perdia a frialdade e o silêncio,