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que até aí, engolido tristemente o caldo, o fazia estirar no catre viúvo; tão triste que até o ramalhar dos sobreiros lhe parecia como um gemer humano. Agora tinha um companheiro humano – e podia, com felicidade, começar a envelhecer.

Teve então orgulho do seu filho, desejou que aldeia o conhecessem. Cristóvão crescia sempre – e era já, antes dos dez anos, como um homem de grande corpo e de grande força, que conservasse, na face lisa e sem barba nem penugem, a candidez de uma criança, alta apenas como uma sebe. Um cabelo ruivo e encaracolado, que lhe nascia nas sobrancelhas cerradas, cobria-lhe a cabeça pequenina, como um barrete muito justo de lã de carneiro, até o pescoço, onde os músculos tinham a saliência, a rijeza, a amplidão dos de um touro. A boca larga constantemente se alargava mais num sorrir para tudo, de candidez e pasmo. E os seus olhinhos, pequeninos como contas azuis, tinham uma doçura que se derramava, em redor, como uma carícia vagarosa e compassiva. Todos os seus vastos membros se moviam com uma lentidão tímida: e, mesmo para descer à fonte ou contornar a sebe da horta, se acostumara a trazer um bordão, a que apoiava, quando parado, as duas mãos enormes, e por cima o queixo pesado, marcado com uma cova funda. De uma peça de camelão azul, que o pai há muito guardava