olhos então embebiam-se numa grande pomba branca, que se conservava imóvel, com as asas abertas, por cima do sacrário, e que cada domingo o atraía mais, sempre ali, fiel, paciente, sem que uma das suas peças estremecesse: só ela era doce, alegre, natural, na sua brancura adorável, e macia à vista: com um bico claro, patas rosadas, só ela não tinha, no seu corpo de pomba, nem ouro, nem sangue: natural, e igual às outras pombas, só ela o não assustava, nem deslumbrava: - e Cristóvão não compreendia porque se conservava ali naquela sombra fria, entre granitos, ao lado de agonias e dores, e não vinha voar e arrulhar com as outras, sobre os castanheiros do adro.
O seu incerto pensamento ia então para os prados que atravessara, descendo das cabanas, para a verde frescura do choupal, para o sol que aquecia os lagartos dormindo nas pedras brancas. Teria decerto gostado de ficar lá, pelos campos, pela beira do rio, todo o longo domingo, sentindo a erva fresca entre os joelhos, roçando a mão pela frescura das ramagens baixas. Mas nos domingos era necessário visitar, louvar a Deus Nosso Senhor. Só assim, como lhe afirmava o pai, se subia depois ao Céu. Ele, decerto, iria uma dia para o Céu. E uma inquietação passava na sua alma, porque o Céu, como a Igreja, se lhe afigurava escuro, pesado, com ouros, grandes panos de seda.