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Página:Ultimas Paginas (Eça de Queirós, 1912).djvu/79

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entrevia as coisas maravilhosas do começo do Mundo. Um Deus enorme, grande como ele, alargando os seus braços potentes, separava o Sol e a Lua; a sua voz era o trovão que rolava; e o seu sopro ora fazia curvar as florestas, ora encapelava as vagas. Mas os homens começavam a povoar a terra, e Deus entrava logo em grandes cóleras. Ao seu capricho as cidades tombavam, sepultando sob as ruínas as criancinhas que sorriam nos berços; vastos prados secavam, e os gados balavam lamentavelmente de fome; um grande terror tomava a terra: - e os homens viviam no terror daquela mão imensa, que só saía das nuvens para os devastar.

De noite, o doce sono fugia de Cristóvão. E encolhido, voltava para o Céu os olhos desconfiados. Se Deus reparando nele, de repente, fizesse sobre ele cair o fogo que queimara Gomorra? Todo o barulho o inquietava: e numa noite de trovoada os seus gritos acordaram todo o convento.

Mas o padre-mestre bem depressa começou a explicar os dogmas. E foi como se toda a Terra e Céu perdessem a sua realidade, ficando apenas deles baixas névoas que flutuavam. Nas alturas já não governava um homem forte e velho, de longas barbas: - mas uma trindade, que era de três, mas que formava um só, e era um Pai, um Filho, e um Espírito que tinha asas.