Página:Ultimas Paginas (Eça de Queirós, 1912).djvu/89

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as suas ligaduras; não há dor que não espere consolação; as crianças têm um amigo, e as multidões, nas aldeias, vêem o pão nascer do pão.

Por que vai ele a Jerusalém, terra dura, onde os homens, com as barbas agudas, gritam uns contra os outros, brandindo rolos da Lei? Mas, que importa! Ele vai para tornar os homens melhores, e o povo vai com ele, cantando. É então que o céu se começa a tornar escuro. Os fariseus tramam baixo sob as arcadas do templo. E uma ansiedade pesa na terra...

E uma ansiedade enche também a face de Cristóvão. Porque não permanecera ele sempre Menino, sobre os joelhos da mãe, quando a Estrela luzia, e ele estendia a mãozinha para o focinho da vaca? Ou, se devia ser homem, porque deixou ele a beira do lago, e os caminhos verdes, onde a cada um dos seus passos a terra se tornava melhor, e melhor a alma dos homens?

— Tens pena, Cristóvão?

Era Etelvina que assim murmurava com os olhos apiedados.

Ele moveu a cabeça, em silêncio. O seu vasto peito arfava, e um terror invadia-o de o ver a ele, tão bom, naquela cidade onde os homens eram tão duros.