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— E depois?

Alfredo disse então os dias derradeiros. Tristemente, Jesus, sozinho, sobe, ao cair da tarde, para o vergel de Betânia. Aí são as melancolias de uma felicidade que finda. Madalena, desgrenhada, lava os seus pés cansados. Marta fia, com um fiar tão lento como se fiasse um sudário. Mas já Jesus se senta para a última ceia. S. João inclina a cabeça sobre o seio do Mestre. Judas aperta, sob a túnica, a sua negra bolsa. Jesus diz: “Em breve não estarei mais entre vós”. A noite é escura; Jesus sobe devagar o monte, onde há oliveiras; e um anjo, todo coberto de negro, marcha ao seu lado. Um vento passa no ramo das oliveiras. Um rumor de armas vem com o vento que passa...

Nos olhos de Cristóvão borbulhavam grossas lágrimas. E Alfredo dizia as tochas surgindo na escuridão das ramagens, os soldados brutais, e a prisão do Senhor. Por que o prendiam assim, e levavam ele, mais doce do que o anho? Ei-lo que passa! E os seus pés, que encontravam o caminho do bem, sangram sobre as lajes duras, da casa de Pilatos à casa de Caifás. Traz sangue na face, as mãos arroxeadas pelas cordas, os ombros riscados pelas vergas: - e a sua doçura é tão grande que diz: “Por que me bateis?” A cruz que lhe dão é tão pesada, que cai uma vez, outra vez, ferindo os joelhos nas pedras, com grandes bagas de suor na face... Mas eis que em tropel todos