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XXXII


O FEITICISMO DOS POETAS BRASILEIROS


E’ indispensável uma curta explicação do enunciado do thema desta conferencia.

Em primeiro logar, porque digo feiticismo e não fetichismo, como vulgarmente se diz e se escreve? Não sou inimigo irreconciliavel dos estrangeirismos. Não considero que uma lingua qualquer, nova ou velha, pobre ou rica, possa ficar parada, ankylosada, estagnada, limitada aos seus proprios recursos. Aos idiomas acontece o mesmo que aos grandes industriaes e commerciantes, que quanto mais dinheiro ganham, tanto mais dinheiro querem ganhar. As linguas vivas, em pleno viço e esplendor, nunca são bastante ricas; todas ellas adoptam a lei da grande naturalização, e dão fóros de cidade a todos os vocabulos que podem opulental-a e aformoseal-a . Se é riquissima a nossa lingua, não é isso razão para que se não procure enriquecel-a ainda mais. Mas não se trata disso no caso especial dos vocabulos “fetiche" e “fetichismo”. Estas palavras são corrupção france-