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leza feminina não é apenas um encantamento physico: é uma lição de moral, porque a contemplação da belleza ennobrece os olhos e purifica a alma de quem a admira. Houve outrora, em fins da Idade Média, na cidade franceza de Toulouse, uma senhora, que era a mais bella do seu tempo. Chamava-se Paula de Viguier, e era modesta e piedosa, timida e devota, pouco dada a apparecer e brilhar. Mas os magistrados da cidade, considerando que era um crime de lesa- humanidade occultar-se tamanha formosura, obrigaram por um edito a bella Paula de Viguier a mostrar-se á janella tres vezes por semana, para assim pagar ao povo o imposto da sua belleza, dando-lhe a consolação e a delicia do espectaculo do seu olhar e do seu sorriso...

A belleza feminina é de tal modo sagrada, que já houve quem propuzesse a construcção de um monumento commemorativo, para honrar a memoria do humilde cavouqueiro anonymo, que, com um golpe inconsciente da sua picareta, arrancou do fundo da terra o prodigio incomparável da Venus de Milo. Que é a Venus de Milo, frio e inanimado bloco de pedra, senão um idolo, um feitiço, em que todos nós, incorrigivelmente feiticistas, adoramos a corporalização da eterna ideia da belleza feminina? E que outra adoração, mais intensa, que outra veneração, mais completa, deve merecer a Mulher viva, o grande feitiço vivo, formado de pequenos e innumeros feitiços vivos? E’ o feitiço maior da Natureza!

Na Mulher, todas as perfeições da Vida universal se conteem. Quando menina, ainda pequenina, já a mulher tem a graça divina, diluculo de belleza, que